quarta-feira, 9 de março de 2016

Entrevista: 'Deixar o trigo é libertador'

O cardiologista norte-americano, de 55 anos, defende a abolição deste cereal da alimentação como remédio para diversos males - entre eles, o excesso de peso.




Porque começou a restringir o trigo aos seus doentes?
Os produtos com trigo, em qualquer das suas formas, apresentam o maior índice glicémico de todos os alimentos. Por isso, comecei a aconselhar os meus doentes diabéticos e pré-diabéticos a eliminarem esses produtos. Semanas depois, apareciam-me no consultório com menos 15 quilos e menos 10 centímetros de cintura. Além de terem deixado de ser diabéticos, terem perdido o refluxo, as dores nas articulações, as dores de cabeça, o mau humor e as noites mal dormidas. Registei melhorias fantásticas em todos os aspetos.
A que se devem essas mudanças tão radicais?

O trigo não é o mesmo que comíamos há 50 anos. Ele é manipulado geneticamente ou, para ser mais preciso, usam-se técnicas de mutagénese química, com efeitos em quem o consome, especialmente por causa da proteína gliadina, que revelou ser um estimulante de apetite. Especulando, acho que a indústria agroalimentar descobriu isso mas, em vez de avisar os consumidores, passou a adicioná-la a toda a comida processada. Depois, as pessoas não conseguem controlar o apetite, ficam obesas e o Governo culpa-nos de sermos preguiçosos.

Acha, então, que todas as pessoas devem abandonar o trigo?

Não há um humano que o consuma que não venha a sofrer consequências na sua saúde, elas apenas variam conforme a sensibilidade de cada um. A comida com trigo é para as massas. Costumo dizer que hoje em dia, é o grão dos ignorantes e dos desesperados, dos que passam fome. Aqueles que podem, não devem ajudar a esta exploração da doença humana. Sei que a sua abolição será impossível, porque há a indústria agroalimentar por trás de tudo isto.

Compara o trigo à heroína. Não será um pouco exagerado?

Comparo por causa do efeito opiáceo que a gliadina produz no nosso cérebro, estimulando o apetite e pensamentos nebulosos. Sabe-se que, em alguns casos patológicos, pode ter também efeitos a nível mental. Falo em aumento de paranóia, em esquizofrénicos, depressão em quem tem tendência para ela, obsessão com a comida entre os bulímicos... Há muita literatura sobre estes assuntos, mas não se fala nisso. Foi essa uma das razões porque decidi escrever o livro.

É difícil deixar de comer trigo...

É inconveniente, mas não difícil. E não se deve substituir uma coisa má por outra má, como os produtos sem glúten - esses, por causa dos substitutos que são utilizados na sua confeção, causam diabetes, hipertensão, doença cardíaca e cancro. Proponho sempre que se cozinhe em casa e até já publiquei um livro de receitas de comida saudável, sem trigo, sem açúcar e baixa em hidratos de carbono. Os meus doentes estão cientes de que podem continuar a ter bolos de anos, a comer coisas saborosas, mas com diferentes produtos. Sabe o que comi hoje ao pequeno-almoço? Duas bolachas de chocolate, um muffin de tangerina e uma mão cheia de mirtilos. Deixar o trigo é libertador, não limitador.